25.5.06

inscrição

quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar.

sophia de mello breyner, livro sexto (1962)

[sem título]

na sua forma mais sublime a música detém um poder universal que lhe advém da forma prodigiosa como se insinua no mais profundo dos códigos misteriosos pelos quais o corpo transmite os seus sinais ao cérebro.

assim, o cérebro trata as mensagens musicais como se elas viessem do coração e não do ouvido. esta música apropria-se da transmissão e chega ao cérebro não somente enquanto som, mas também como sentimento puro.

[...]

o espírito do ouvinte privilegiado tem a sensação de estar a escutar às portas da sua vida interior, de estar ligado à fonte da existência, longe, bem longe, do quadro mundano da experiência.

antónio damásio, le voyage magnifique (1997)

é um dizer

estende um pouco mais a mão
recolhe um a um os sinais do desejo

fogo de abelhas o sexo
espera a insurreição da cal

a espessa ondulação do vento
é sobre o corpo a própria exaltação

morrer nos flancos do amor é um dizer
repara como brilham os limoeiros

eugénio de andrade, véspera da água (1973)

[dedicatória]

in the vastness of space and the immensity of time, it is my joy to share a planet and an epoch with annie.

carl sagan, cosmos (1980)

24.5.06

you are welcome to elsinore

[...]

e há palavras nocturnas palavras gemidos

palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

[...]

mário cesariny, pena capital (1957)